Conto: Arrependimento

Saí da aula e peguei o primeiro ônibus do próximo horário, assim chegaria mais cedo para vê-la. Sentei perto da janela, coloquei os fones ...


Saí da aula e peguei o primeiro ônibus do próximo horário, assim chegaria mais cedo para vê-la. Sentei perto da janela, coloquei os fones e fiquei lendo as últimas mensagens que havíamos trocado. Fazia tempo que nós não nos víamos, então eu decidi fazer uma surpresa.

Ela me cobrava para visita-la, porém eu tinha o time de futebol, encontro de jovens e nem sempre podia sair. A última vez em que nos falamos foi quando ela me convidou para sua festa de aniversário e eu não pude comparecer. Depois daquilo, ela ficou chateada e não quis falar comigo. Ela tinha razão.

Uma hora e meia e o tempo passou rápido. Desci e andei em direção à praça aonde nos vimos pela primeira vez. Ela devia estar ali ou em casa. Olhei ao redor e, como ela não estava lá, subi uma rua em direção à sua casa. Liguei para ela e quando atendeu, foi com um silêncio tentador. Adorava quando ela ficava irritada.

- Você tem um segundo?

A cortina do seu quarto se abriu e ela me viu no portão. Esperei-a descer correndo e quando nos vimos, suspirei. Com um sorriso, a abracei e fomos andando até a praça. Ela estava cheirosa. Sempre me provocando. Vestia um jeans claro e seu velho All Star branco. A blusa era do colégio e seu cabelo loiro escuro voava solto com o vento. As lembranças sempre frescas na memória quando ela me falou que gostava de mim e eu namorava a garota errada.

Claro que eu sentia algo por ela. Mas não tinha certeza. Eu também gostava de uma colega da escola, mas eram coisas diferentes. Sentimentos e emoções distintas. Sentamos naquele mesmo banco onde nos vimos pela primeira depois de dez anos, e ela sorriu consigo mesma, boba.

- Não adianta. Prometi pra mim que não iria desculpá-lo, mas não consigo.

- Estou muito arrependido. Mas há idades mais importantes para comemorar, não acha? Ano que vem você faz 18...

- Eu senti sua falta.

Me aproximei dela e coloquei na sua franja atrás da orelha. Ela olhou pra baixo, timidamente e sorriu.

- Eu também.

Porque a culpa era sempre da distância? Eu simplesmente poderia morar na mesma cidade que ela e tudo ficaria tão mais fácil. A única coisa que eu queria naquele momento era saber o que ela estava pensando. Eu queria beijá-la, fazer o que devia ter feito desde o início. Eu devia arriscar?

- Afinal, o que veio fazer aqui?

- Vim trazer seu presente de aniversário.

Ela pareceu surpresa. Coloquei minha mão em sua nuca e puxei-a para mim e a beijei. Não houve gesto de repulsa, impedimento ou qualquer coisa porque, assim como eu, ela havia gostado.

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