Contos
Conto: Lembrancinha
18:19
Era semana do meu aniversário. Poucos sabiam, apenas amigos próximos e parentes. Eu era daquelas que odiava ser lembrada. 17 anos, uma idade pouco importante na minha vida. Por mim, eu não iria comemorar, mas Jean me obrigou a fazer uma festinha.
Moreno, altura mediana, cabelos negros azulados, olhos cor de mel e corpo de atleta, meu melhor amigo se aproximou para confirmar o convite, no final da aula.
- Shhhh, está tudo certo Jean. E pode almoçar lá em casa, se quiser. - murmurei prendendo meu cabelo com uma fita, devido ao vento.
- Ah - fez uma pausa - não vai dar. Vou ter que sair com minha mãe e sabe como é né... Mas valeu por perguntar. Te vejo mais tarde - disse e encostou seus lábios na minha testa.
Segui lentamente pela rua movimentada. Eu conhecia Dona Sônia o bastante para saber que ela adorava e exigia a compania do filho quando ja sair. Minha mãe me recebeu com um abraço e o almoço já estava na mesa.
- Está tudo certo pra hoje? Já decidiu quantos convidar? Preciso saber logo para fazer os pastéis...
- Mãe... Só o Jean vem. Não se preocupe. Eu não como muito e ele está de dieta. A gente se vira. Obrigada, mesmo assim.
Me levantei da mesa, recolhi meu prato e me tranquei no quarto. Por longos minutos, fiquei encarando o reflexo que eu via no espelho grande do armário. Eu precisava concertar aquilo. Já estava na hora de mudar.
Tirei a roupa e fiquei só com a roupa de baixo. Abri o armário e procurei uma calça jeans nova, mas parei. Precisava mudar aquilo também. Joguei-a de lado e escolhi um vestido roxo com bonitos detalhes que combinavam com a cor do meu cabelo...
Olhei-o e, sem me assustar muito, peguei um pente de madeira para começar a desfazer os nós. Arrumei-o numa trança de lado e me foquei no meu rosto. Eu não sabia me maquiar. Várias vezes minha mãe me dera kits, mas sempre os guardei no fundo da gaveta.
Abri o estojo e peguei o lápis de olho preto. Baseado em alguns livros e revistas que eu lia, tentei passar. Não ficou ruim. Peguei a sombra lilás e logo passei o rímel. Eu gostava do que via no espelho.
A campainha tocou e pelo susto, fui atender a porta correndo. Era Jean e ele me olhava pasmo, de cima a baixo. Devia ter registrado seu rosto. Soltei uma risada e mandei ele entrar. Quando nos sentamos no sofá, ele conseguiu falar.
- Bonito chinelo.
Franzi o rosto e lembrei que pela pressa eu havia esquecido de colocar a sandália. Com um sorriso torto, agradeci e arrumei a franja, timidamente.
Ele também estava bonito. Com uma regata branca e um blazer que me fez suspirar. Claro que eu não podia negar que Jean fazia meu coração palpitar mais forte, mas nós nunca deixaríamos de ser apenas amigos.
- Ah! - lembrou, mexendo no bolso de dentro do seu blazer. - Minha mãe mandou uma lembrancinha. - disse, me alcançando um pequeno pocotinho azul. - Ela insistiu que você usasse, mas disse que é simples.
Tirei de dentro um vidrinho de perfume e um batom vermelho. Se ela insistiu que eu usasse, eu teria que colocá-lo. Fui até meu quarto e, em frente ao espelho do armário, coloquei-o. Ele tinha gosto de framboesa. Ela sabia que era o meu preferido. Aproveitei e coloquei o perfume. Jean estava ali também.
- E agora quero que você feche os olhos ganhar o meu presente.
Fiz o que ele pedia e ele chegou perto para colocar um colar e mim. Quando tornei a abrir, observei o "J" brilhante no meu pescoço. Era tão lindo que sorri.
- J de Jean. - Sussurrei.
- E de Jéssica. - Completou.
Ficamos em silêncio por um tempo até ele perceber que eu usava o batom e o perfume.
- Gostou?
- Sim. Dona Sônia fez uma ótima escolha. O perfume é delicioso e o batom tem gosto de framboesa.
Ele sorriu e se aproximou do meu rosto.
- Posso provar? - e depois de cheirar meu pescoço, partiu com pressa para minha boca onde ambos sentíamos o gosto da felicidade.
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