Conto: Violino

O ensaio estava marcado para as 19:30. Como eu era super organizada e desocupada, dirigi lentamente até lá e ainda consegui chegar cedo....

O ensaio estava marcado para as 19:30. Como eu era super organizada e desocupada, dirigi lentamente até lá e ainda consegui chegar cedo. O lugar estava vazio exceto por alguns membros da orquestra que afinavam seus instrumentos e outros que brincavam com o piano.

Larguei minha bolsa em um dos bancos e me aproximei para prestar atenção no que eles tocavam. Eu era apaixonada por violinos. O som era maravilhoso. Me escorei no piano branco de cauda longa acompanhei um dos garotos de terno mover seus dedos agilmente no braço fino de seu violino. Ele era habilidoso. Alguns de meus colegas do coral haviam chegado e começaram a aquecer a voz. Tomei um gole do pequeno copo d'água e me juntei à eles para cantar.

Rapidamente, todos já estavam organizados em seus devidos lugares, o maestro levantou os braços e a orquestra começou a tocar. A introdução era linda. Todos sorriam ao ouvir a melodia da música e eu respirei fundo. Mal parecia que três semanas haviam se passado. Fora tudo tão rápido. Logo depois do ensaio geral, seria a grande apresentação.

As luzes mudaram de cor e o violoncelo tocou aquela nota que eu conhecia muito bem. Dei um passo a frente, como combinado, e comecei a cantar aquela encantadora poesia. Os olhares dos coreógrafos, diretores, maquiadores e até os iluminadores se viraram para me acompanhar.

Quando o fim do ensaio chegou, fui ao encontro do banco para pegar minha bolsa e o garoto estava lá, conversando com uma amiga minha. Ele guardou seu violino, perto de onde eu estava e quando levantou a cabeça para me olhar, pude reparar no tom lindo de seus olhos azul escuro.

Eu sorri, abobada.

- Oi. - disse ele.

Demorei um pouco para voltar a respirar e, tentando não parecer idiota e gaguejar, murmurei um "oi" e fingir mexer no celular para ir embora. Ele era bonito. Não. Ele era charmoso. Seu sorriso e seu jeito formal de apenas levantar a cabeça e dizer "oi" me cativavam...

Dei uma mordida no sanduíche, tentando me concentrar, e abri a partitura em cima da mesa do bar. Eu estava praticamente sozinha, então comecei a cantarolar as notas que eu teria que alcançar perfeitamente naquela noite. Começou a bater o nervosismo. E se eu esquecesse a letra? E se eu errasse a entrada? E se eu não alcançasse aquela maldita nota? E se...?

Corri para a capela e me posicionei no centro do palco. Tudo bem. Qual era a primeira parte mesmo?

- Você precisa de ajuda?

Abri os olhos e o garoto estava ali.

- Desculpe se interrompi a sua meditação, aquecimento ou sei lá... - ele se interrompeu percebendo que estava falando demais.

Soltei uma risada e abaixei a cabeça, corando.

- Não, tudo bem. Só estava tentando lembrar o começo da música.

Ele cantarolou e eu agradeci, sorrindo. Continuei a cantar e ele se sentou para me observar. Andei pelo palco vazio e quando terminei já haviam várias pessoas de volta. Me recolhi e encontrei algumas amigas que eu havia convidado para assistir a grande ópera e as recebi ansiosa.

- Quem é aquele de terno ali? - perguntou uma delas

- É um violinista da orquestra. Porque? - acompanhei-o passar breu no aro e sorri torto.

- Ele olhava você cantar, admirado... Espera. Que sorriso é esse?

Balancei a cabeça e tentei esquecer ao máximo aquela cena. Elas se riram quando perceberam o que se passava no momento e eu segui quieta. Faltavam alguns poucos minutos para a tão esperada apresentação. Estávamos todos nervosos atrás das cortinas e mal conseguíamos pensar em outra coisa. O maestro deu as boas-vindas ao grande público e eu cruzei os dedos.

- Boa sorte. - uma voz veio por trás de mim e sumiu aos poucos quando os instrumentistas subiram ao palco.

Franzi o cenho e acompanhei meus colegas cantando quando a música começou. As cortinas se abriram e o lugar estava cheio de gente. Apenas deixei o som me levar, mas tudo acabou tão rápido que mal consegui aproveitar. Na hora em que todos foram se despedir, emocionados, eu andei no meio deles, mas não consegui achar o violinista. Abri uma das portas que dava para a rua e ali estava ele, sozinho.

- Você cantou muito bem. - murmurou

Ao me aproximar dele, a luz da lua refletia em seus olhos. Ele colocou suas mãos no meu rosto e nos beijamos.

- Obrigada, Você também tocou muito bem.

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