Conto: Gincana

Aquela gincana estava matando todos do colégio. A próxima tarefa teria a pontuação máxima e era a mais difícil. Cantar uma música. Até ...


Aquela gincana estava matando todos do colégio. A próxima tarefa teria a pontuação máxima e era a mais difícil. Cantar uma música. Até aí tudo bem, porém teríamos duas horas para decorar a letra e fazer uma coreografia. Todos os meus colegas queriam que eu me candidatasse. Revirando os olhos, minhas bochechas coraram e eu escondi o rosto. Eu não queria cantar.

Depois de muito tempo tentando me convencer, eu aceitei. Eu só rezava que fosse uma música que eu conhecesse. A única coisa que eu tinha mais medo era a coreografia. Eu não sabia dançar. E se a música sorteada fosse da Britney Spears? Ou então do Michael Jackson? Eu passaria a maior vergonha da minha vida.

A semana toda eu pesquisava possíveis músicas que poderiam ser sorteadas. E quando a data chegava mais próxima, mais nervosa eu ficava. Ainda não sabíamos se teríamos que cantar sozinhos, se seria um duelo, se teríamos que escolher uma dupla... Estava tudo muito confuso ainda. A apresentação seria no final de semana. Todo o colégio estaria lá para nos assistir. Era a tarefa final que decidiria qual turma ganharia a gincana.

Fechei os olhos e respirei fundo. Amarrei meu cabelo num rabo e entrei no carro para minha mãe me levar para o colégio. Os professores e o diretor da gincana estavam lá para me entregar o papel onde continha todas as regras e qual seria a música que eu iria cantar.

Fui levada para uma sala e lá dentro e em cima de uma mesa de canto havia um papel colorido que dizia “Two Is Better Than One – Taylor Swift, dupla”. Sorri por dentro. Eu conhecia perfeitamente aquela música. Espera. Dupla? Eu cantaria com mais alguém? Quem? Tentei abrir a porta para perguntar ao instrutor, porém eu estava trancada lá dentro. Inferno. Como eu faria?

Apertei “Play” no rádio e o playback começou a tocar. Murmurei a letra escrita na folha para me acostumar com a ideia de que milhares de alunos estariam me olhando e suspirei. Me sentei no chão gelado e comecei a pensar em como seria a coreografia. Provavelmente minha dupla seria um menino. Eu não tinha a menor ideia de quem poderia ser.

- Merda. – grunhi, batendo o pé no chão.

O relógio na parede marcava 15hrs. Significava que eu tinha apenas mais uma hora para ensaiar antes da apresentação. Um frio na barriga subiu e minhas mãos começaram a suar. Odiava aquela pressão que me deixava nervosa. Segurei firme o microfone e comecei a inventar alguns passos que combinassem com o ritmo da música.

Ficaria algo meio romântico e fofo, estilo Taylor Swift, e eu gostava daquilo. Combinava comigo. Mas será que o júri gostaria? Tudo estava pronto. Eu só passava algumas partes na minha cabeça e esperava. Ouvi movimento de pessoas e burburinhos dos alunos que chegavam para a apresentação.

- Vai dar tudo certo. Tenha calma, se concentre na letra e olhe pro público.

Peguei o vestido rosa que se encontrava num cabide no canto da sala e coloquei-o. A chave girou na porta e uma mulher que eu não conhecia entrou e avisou que eu seria a primeira. Meu coração pulsou mais rápido e de longe eu ouvi meu playback começar a tocar. Saí da sala devagar, liguei o microfone e da saca consegui enxergar todos os meus colegas gritando por mim.

Comecei a cantar as primeiras estrofes até o refrão, descendo a escada espiral lentamente e quando chegou a parte que eu tanto esperava o garoto aparecer para fazer o dueto comigo, ali estava ele. Um sorriso incontrolável surgiu no meu rosto e eu fiz com que fosse parte da encenação. Eu nem me preocupava mais com o público, mas sim com aquele rosto bonito que também sorria pra mim.

Joe estava no terceiro ano, assim como eu, e eu tive uma amizade forte com ele até o início do ano quando troquei de turma. Ele era bonito, simpático, querido, inteligente e cantava Taylor Swift. Moreno, alto, acho que eu não precisava falar mais nada.

No mesmo instante, fiquei tranquila e tentei curtir a música. Ele cantava bem. Bem demais. Parei na escada onde ele lá de baixo cantava o refrão comigo. Olhava pra mim tão lindo que tudo parecia um filme. A música estava acabando e desci os últimos degraus para ficar de frente para ele.

Two is better than one. A música terminou e eu estava tão perto do rosto dele. Todos gritavam, aplaudiam, e nós dois sorrimos. Era o momento. Tinha que acontecer. O ponto final seria nosso. Então ele me beijou e a gincana nem era mais tão importante assim...

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