Conto: YouTube

Sentada na frente do computador, como eu sempre fazia ao passar da meia noite, acessei às páginas do garoto que eu passara a observar desd...



Sentada na frente do computador, como eu sempre fazia ao passar da meia noite, acessei às páginas do garoto que eu passara a observar desde o dia em que vi um vídeo seu passar na televisão. Ele era conhecido por vários alunos da minha escola e diariamente eu ouvia comentários sobre ele.

A partir de então, passei a acompanha-lo. Além de ser fofo, Dom era educado e engraçado. Seus vídeos me deixavam curiosa em conhecer a sua pessoa, seu jeito e seu sorriso de perto. Sempre tentei chamar sua atenção com recados ou perguntas, mas nunca era correspondida. Ele devia ser um garoto ocupado.

Até o dia em que ao atualizar a minha página, vi um comentário seu. A alegria me tomou e eu não sabia se ria ou tentava me acalmar. Ele era um garoto normal que gravava vídeos para colocar na internet. Nada mais. Porque ele continuava a chamar minha atenção?

Passei a ser conhecida como ‘a garota correspondida’. Todos estavam falando. Porque entre tantas garotas, ele havia me escolhido? Sem desistir, continuei enviando recados para a sua página, porém fui surpreendida quando uma caixa de mensagem privada se abriu no canto da tela onde eu li o seguinte:

“Isso parece meio estranho. Mal conheço você, mas não paro mais de pensar mil coisas ao mesmo tempo. O que você fez comigo? Espero que você me ajude a concertar tudo antes que eu tenha que tomar outras decisões... Dom”.

Com os olhos arregalados, li e reli as linhas sem entender que aquilo era mesmo verdade. Eu não sabia se deveria responder, ou simplesmente deixa-lo no silêncio para provocar. Aquela mensagem dizia algo mais, ele estava me dando um enigma que eu teria prazer em desvendar, mas eu não sabia o que fazer primeiro. Não devia responder com uma mensagem de volta. Talvez deveria esperar pela próxima e não me preocupar.

E quem disse que eu ia esquecer aquilo? A frase ficou tão presa nos meus pensamentos de certa forma que só pensava num jeito de conseguir faze-lo ficar mais próximo de mim. Ele não iria falar isso para qualquer uma. Eu fora escolhida e agora deveria tentar antes que ele desistisse, como ele mesmo dissera na mensagem.

Esperei uma semana sem respondê-lo, sem mandar recados românticos para o seu perfil na internet e nem tive coragem de comentar aquilo com ninguém. Dom não deu sinal de vida. Não fez mais vídeos, não mandou um “oi” fofo para as fãs e muito menos comentou que estava comento panquecas, como sempre fazia nos finais de semana.

Será que aquela era uma das decisões dele? Assim como eu sumi, ele sumira também.

- Vamos Claire, acho que você não está colocando seu cérebro para funcionar... – murmurei abrindo a janela para iluminar meu quarto escuro quando vi o carteiro se aproximando.

Descendo as escadas correndo, fui receber as cartas quando dei de cara com um papel marrom com uma fita rosa amarrada. Nele, surpreendentemente, tinha o meu nome escrito. Larguei todas as outras na mesa e subi novamente para abrir o envelope que eu havia recebido. Era uma folha decorada, e havia uma letra muito bonita onde dizia:

“Descobri onde você mora. Aos poucos seus mistérios estão sendo desvendados e você não vai ter para onde fugir. Você ficou presa em meus pensamentos, e só você conseguirá tirá-los de mim. Vamos nos encontrar. O que acha do chafariz? Dom”.

Ele estava me perseguindo. Aquilo era loucura. O que ele queria tanto comigo? Agora o mistério era ter que descobrir qual era o chafariz e quando ele queria me ver. Eu deveria juntar as peças daquele quebra-cabeça. Dom sempre fora um menino que gostava de dificultar as coisas. Eu conhecia ele. Só precisava pensar um pouco.

- Qual é o número da sorte dele... – pensando em voz alta, comecei a pesquisar nas suas redes sociais algumas informações que talvez me ajudariam.

Depois de muito tempo procurando por cada detalhe, concluí que seria numa sexta-feira, dia 5. Agora era só esperar.

“O tão esperado dia chegou. Vou me encontrar com ela. Vejo vocês mais tarde, meus amores”.

Aquele comentário dele na página inicial me deu um frio na barriga. Era a hora. Saí da cama correndo e fui pra baixo do chuveiro, começando a pensar que roupa eu colocaria. Não deu outra. Fui com meu velho All Star, e o mesmo vestido florido que eu sempre usava. Não queria impressioná-lo com a minha roupa e sim com a minha personalidade.

O chafariz era no lugar mais óbvio que eu podia imaginar. Era o lugar que ele mais gostava de ir, nas férias. Ao longe, o reconheci e abri um sorriso quando ele se levantou para me receber.

- Sabia que conseguiria desvendar o desafio. Você me conhece bem...

Aquela voz... Como tudo era diferente, vendo ele tão de perto sem a barreira da tela do computador. Eu podia tocá-lo, sentir seu perfume, admirar sua beleza e seu lindo sorriso. Seus cabelos loiros refletiam os raios de sol assim como os meus. Sorri com a observação tosca que eu tinha feito.

- Meses de prática. – disse, timidamente.

- Vamos sentar, quero conhecer você já que você já me conhece.

Os dois rimos e sentamos no banco do chafariz. O barulho da água caindo acalmava meus nervos. Eu estava incontrolavelmente louca para agarra-lo, mas educadamente me sentei e esperei pela primeira palavra.

- Então, Claire... – escondi a minha satisfação por ouvi-lo falar meu nome. Ele fez uma pausa longa e franziu a testa. – Você está me deixando nervoso. Nunca esqueci o que ia falar, perto de uma garota.

Senti que estava corando e escondi o rosto. Ele levantou a mão, colocou minha franja atrás da orelha e me olhou. Sem ter que falar nada, sem qualquer expressão no rosto, ele me beijou. Rapidamente todos aqueles vídeos começaram a virar um filme. O nosso filme.

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