Conto: Apartamento 21

Finalmente férias. Estávamos arrumando as malas para passar um tempo na praia e eu só me preocupava com o sinal do celular e a falta de i...



Finalmente férias. Estávamos arrumando as malas para passar um tempo na praia e eu só me preocupava com o sinal do celular e a falta de internet. Eu ficaria completamente isolada com minha mãe reclamando nos meus ouvidos do meu ‘ex-pai’ que se acabara de se mudar com minha madrasta chata, ignorante e falsa, para o Chile.

Entramos no carro e eu liguei meu iPod para conseguir dormir durante a viagem. Não foi difícil. A minha felicidade era tão grande que quando chegamos ao pequeno apartamento, dei um longo bom dia aos vizinhos e me ajudei minha mãe a tirar os travesseiros, as caixas de comida e o guarda-sol do carro.

O primeiro dia na praia foi tranquilo. Não estava lotada e o mar estava bom para mergulhar. Aproveitei que minha mãe estava calma e comprei uns livros para ler e passar meu tempo. Até que aquela tarde estava rendendo. Eu estava pegando um bronzeado e meu cabelo estava seco e brilhante.

Porém, nem tudo que é bom, dura muito tempo. No segundo dia, choveu. Ficamos trancadas no apartamento, embaixo das cobertas, durante a pequena tempestade. Quando o clima ruim parou, aproveitei para abrir as janelas do meu quarto para entrar um ar fresco e de repente me deparei com um garoto.

Jogando bola na calçada, ele se encontrava todo molhado e concentrado nas jogadas que fazia com o pé. Não consegui ver direito o seu rosto, mas decidi ir ao seu encontro para tentar começar um assunto para matar o meu tédio.

- Oi, sou Rose.

Ele pisou na bola, levantou o rosto para me olhar e pareceu interessado. Seus cabelos cor de chocolate estavam grudados ao rosto devido à chuva e seus olhos castanhos percorreram todo o meu corpo enquanto eu esperava uma resposta.

- Você é a garota do apartamento 21.

Olhei para os lados tentando entender como ele sabia.

- Você está ficando aqui também?

- Sou Jaden, filho do dono desse lugar.

Levantei as sobrancelhas e deixei aquela passar. Ele estava sendo grosso comigo por simplesmente achar graça naquilo ou eu deveria me retirar dali o mais rápido possível para não ser atingida pelo mau humor do ambiente.

- Tudo bem. Isso pode parecer estranho, mas sou nova por aqui. Poderia me mostrar algum lugar legal por aqui? Alguma Lan House, Shopping, centro, lojas de suvenir, camelô... Qualquer coisa? – resmunguei.

- Olha, por aqui o máximo que você vai encontrar é um mercado para comprar comida. - ele deu uma risada avacalhada e me olhou com uma careta.

- Poderia ser um pouco mais educado e simpático comigo, por favor?

- Acho que começamos errado. Vamos tentar de novo.

Fechei os olhos e reabri-os logo em seguida para recomeçar a cena onde tudo pareceu mudar. O garoto parecia estar diferente. Não aparentava ser mais o garoto arrogante que eu inicialmente conhecera. Parecia que ele havia se transformado em algo melhor. Pensando bobagem, pensei em como começar.

- Olá, sou Rose. Estou hospedada no apartamento 21 e sou nova por aqui, poderia me ajudar a encontrar um lugar para passar o tempo?

Ele levantou os olhos para mim e sorriu. Ignorei meu impulso tremendo de sorrir e deixei-o continuar.

- Muito prazer em conhecê-la. Sou Jaden e acho que sei um lugar para leva-la.

Parei de acompanha-lo e fitei-o.

- Aonde você vai me levar?

- Venha comigo. – pediu pegando minha mão pequena com a sua grande e molhada.

Sem medo, deixei-me ser guiada por ele. Andamos pouco e logo chegamos ao lugar que eu menos esperava.

- Praia? Você me trouxe à praia?

Ele me olhou e riu.

- Você não sabe o que está falando, sua boba. – falou e andou em direção ao mar. – Vai vir?

Senti-me segura. Parecia que éramos amigos há anos e eu confiava nele tanto quanto eu confiava em minha mãe. Por sorte, eu estava de biquíni por baixo. Se ele tivesse a loucura de entrar no mar, eu não me preocuparia. Como se ele lesse meus pensamentos, começou a entrar no mar. Sem pensar duas vezes, o segui.

A água aos poucos ia chegando ao meu joelho e demorei um pouco para perceber que eu conseguia ver perfeitamente meus pés e ao redor muitos peixes coloridos e estrelas do mar. Jaden se abaixou e pegou uma estrela.

- Guarde. Essa é sua. – sussurrou.

Com cuidado, peguei a estrela e coloquei no bolso da minha calça enquanto ele tentava pegar um pequeno peixe amarelo que insistia em escapar. Comecei a rir e no meio das risadas, surgiu uma guerra de água. Estávamos nos divertindo como crianças. O sol, que havia surgido no meio das nuvens nebulosas, estava completamente desaparecido dando lugar a algumas estrelas e à grande lua cheia.

Exaustos, caminhamos até a beira da praia e sentamos na areia quente e seca. Fora um dia engraçado e longo. Deitei a cabeça e fiquei olhando para o céu escuro e sem nuvens e percebi que Jaden olhava para mim.

- Imagina se algum dia alguém conseguisse contar as estrelas? – murmurei.

Ele fez o mesmo que eu fazia. Ambos ficamos olhando para o céu, sem dizer uma palavra sequer. Imaginei que horas podia ser. O que minha mãe faria quando eu chegasse em casa. Nada seria igual, mas pelo menos eu havia conseguido passar o meu tédio. Eu não queria voltar. Queria aproveitar aquele momento ali na praia ao lado de Jaden. Não percebi quando acabei adormecendo. Só abri os olhos quando ouvi ele murmurar.

- O sol já está nascendo.

Levantei os olhos enquanto ele acariciava meus cabelos. Sentei-me e coloquei minha mão em seu rosto macio. Sua pele quente latejava sob meus dedos frios. O vento que soprava era agradável e balançava meus cabelos no mesmo ritmo em que começamos a nos beijar. E aquelas foram as minhas melhores férias de verão.

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