Conto: A última festa do ano

Eu o conhecia de algum lugar. A única coisa que eu sabia era que ele tocava bateria. Tudo bem. Era apenas um começo. Ele havia sorrido pr...


Eu o conhecia de algum lugar. A única coisa que eu sabia era que ele tocava bateria. Tudo bem. Era apenas um começo. Ele havia sorrido pra mim e eu desviei o olhar. O começo errado. Havíamos nos encontrado poucas vezes e ele sempre me acompanhava, puxando assunto quando possível. Uma pessoa carismática e simpática.

Cheguei em casa e comentei com minha amiga. Era o primeiro dia. Ainda teria muitas novidades pela frente. Li um livro e deitei na minha cama, pensando no que poderia acontecer no dia seguinte, quando eu o visse. Demoraria um certo tempo, mas eu esperaria ansiosamente que aquele certo dia chegasse.

A semana foi tranquila. Fui convidada para uma apresentação de fim de ano em que ele tocaria. Ansiosa, me arrumei e cheguei ao local onde muitas pessoas já se encontravam. Encontrei-o conversando com alguns amigos, rindo, disperso. Aquela não era a hora. Desviei o caminho e fui me sentar em uma das cadeiras, esperando o evento começar.

Sozinha e deslocada, assisti tudo e no final aplaudia com empolgação. Ao chegar a sua vez de tocar, fiquei atenta a cada passo seu. Ele sentou no banco atrás da bateria, segurando as baquetas com os dedos firmes, e começou a tocar, dando o ritmo. Fiquei impressionada. Ele tocava melhor do que eu imaginava.

No final do evento, levantei-me para procurá-lo. Ele estava se despedindo dos professores quando eu cheguei para parabeniza-lo pela maravilhosa apresentação.

- Nossa, você tocou muito bem. – falei, e ele abriu um sorriso.

- Obrigada. Achei que você nem ia vir...

Escondi uma risadinha virando o rosto e então ele segurou meus braços para dançar. Com os olhos arregalados, mesmo sem saber dançar e querendo fugir dali com todas as vontades, acompanhei seus passos, rindo. Ele me olhou quando paramos de dançar e novamente sorriu.

- Preciso ir embora. Meu pai já chegou... – murmurei e ele assentiu.

- Tudo bem. – disse e beijou meu rosto – Tchau.

Ignorando meus pensamentos bobos, andei para fora em direção ao carro do meu pai e fui embora, satisfeita.

Depois daquele dia, praticamente tudo mudou entre nós. Ele pediu meus contatos, e passamos a conversar mais seguido. Era divertido o que estava acontecendo com a gente. Eu percebia que ele já me considerava uma amiga especial só pelo jeito de me chamar. Quando ele me convidou para a última festa do ano e pagou o meu ingresso, eu notei que talvez aquela seria a grande hora.

Me arrumei, pensando no que poderia acontecer. Sem me importar muito com o horário, cheguei ao salão onde a música já tocava alto e muitos jovens dançavam e bebiam. Entrei no meio deles e comecei a dançar. Não havia uma pessoa que eu conhecesse. E, novamente, eu estava completamente sozinha ali.

Entre todos que dançavam, visualizei ele no mesmo instante em que ele me viu e deixou os amigos para me receber.

- Oi. Não sabia que vinha.

- Ah, você me deu o ingresso. Não ia perder a oportunidade.

Ele concordou depois de perceber que tinha falado uma coisa idiota. Olhou ao redor e piscou.

- Vamos dançar. – pediu.

- Hm, certo. Eu não estou muito empolgada para...

Sem me deixar terminar a frase ele me puxou para acompanha-lo. Como da primeira vez. Fiz o que eu melhor sabia fazer. Escondi um sorriso e dancei com ele. Não bebi, muito menos comi. Estava ali para me divertir e passar um tempo com ele. E havia funcionado.

O tempo passava rápido demais. Já era tarde e logo meu pai ligaria. Exausta, peguei meu casaco e minha bolsa e quando estava me preparando para sair, alguém segurou meu braço.

- Está indo embora?

Olhei para ele e assenti. As luzes não me permitiam ver seu rosto com clareza, mas ele pareceu querer falar algo, sem conseguir. Antes que eu pudesse dizer adeus, ele botou sua mão em minha cintura, colando nossos corpos, olhou nos meus olhos e não precisou de mais um segundo para eu perceber que chegara a hora. Então ele me beijou.

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