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Conto: Porta aberta

Ei, pessoas! Tudo bem? Fazia tempo que eu não sentava pra escrever um conto, né? Faz tempo que não escrevo nada de histórias, na verdade. Po...


Ei, pessoas! Tudo bem? Fazia tempo que eu não sentava pra escrever um conto, né? Faz tempo que não escrevo nada de histórias, na verdade. Pois então chegou a hora de desenferrujar :)

Tudo estava pronto no balcão da cozinha, quando de repente percebi que faltava um ingrediente.

- Merda, esqueci do fermento... - murmurei revirando os olhos pro meu gato que me olhava de cima da janela, curioso.

Ele abriu a boca como se fosse miar, mas som nenhum saiu. O típico miado do Nicolas. Ri e concordei com ele.

- Eu sei, eu sei, eu devia ter feito a lista do mercado. Não precisa jogar na minha cara e falar "eu te avisei" - falei andando até o meu quarto e ele me seguiu. - Bom, parece que vou ter que voltar lá - peguei a chave e minha bolsa e fiz um cafuné na cabeça dele. - Vou começar a te ouvir mais, prometo - e saí às pressas.

Na volta, ao abrir a porta, não encontrei Nicolas. Andei por toda a casa e nada. Comecei a chamar, desesperada pensando no pior quando ouvi minha campainha tocar. Com o susto, corri pra porta. Puxei rapidamente e dei de cara com uma moça. Cabelos castanhos, longos e encaracolados caindo até o meio de suas costas. Seus olhos eram um tom de verde oliva, escuro mas brilhante. Um sorriso meio preocupado me chamou a atenção. Não consegui falar nada.

- Oi - ela começou. - Desculpe incomodar... É que eu fui tirar o lixo e vi sua porta e... - ela viu minha cara de quem não estava entendendo nada e se explicou. - Eu moro no apartamento aqui na sua frente. Meu nome é Monica. Bom... Sua porta estava aberta...

- O que?

Na hora minha cabeça voltou ao Nicolas e meu coração parou. Se ele saiu provavelmente eu nunca vou ver ele de novo.  Meus olhos começaram a encher d'água com a ideia.

-... e ele está comigo. Desculpe invadir assim, mas pensei que seria o melhor a fazer...

- Espera - interrompi. - O que você fez?

- Eu insisto em pedir desculpas. Você pode pegar ele agora e podemos fingir que nada aconteceu...

- Não, eu... - Fechei meus olhos e balancei a cabeça, confusa. - Você salvou o meu gato?

Ela riu e deu de ombros.

- Se você prefere ver dessa forma, digamos que sim - ela inclinou a cabeça pensando na ideia e sorriu pra mim.

Soltei todo o ar que estava prendendo em um suspiro e deixei os ombros caírem.

- Não faço ideia do que você deve ter passado nesses minutos achando que tinha perdido seu gato... Qual o nome dele?

- Nicolas - demorei pra responder, ainda me recuperando do choque.

- Bom, er... Você quer aproveitar pra entrar? Eu estava passando café - ela disse apontando o polegar pra trás, pra porta número 20.

- Eu posso ficar um tempo se você aceitar passar aqui pra comer o bolo que eu ia fazer - e dei uma risada.

- Justo - ela riu junto virando as costas pra abrir a porta da casa dela enquanto eu fechava a minha de novo.

Ao entrar na casa comecei a observar tudo até que dois gatos correram em nossa direção. Um deles era caramelo, uma pelagem bonita, parecia que tinha pego sol, bronzeada. O outro era Nicolas.

- Oi, meu amor - recebi ele pegando no colo num abraço, enchendo de beijos. - A mana quase fez merda de novo, né?

Vi Antônio observando junto com Monica.

- Pelo que vi você já fez um amiguinho... - soltei ele e me abaixei pra dar a mão ao outro gatinho.

Ele me cheirou e depois abaixou a cabeça para que eu pudesse fazer um cafuné. Olhei pra cima ao encontro do olhar de Monica e sorri.

- Que fofura - miei.

- O Nicolas é uma graça também. Super comportado, educado - ela sorriu passando a mão nele.

Me levantei, bati minhas mãos uma na outra tirando o excesso de pelos e olhei pra ela.

- Bom. Você vai ter que me contar toda a história de novo, porque eu não entendi nada do que aconteceu, vou ser sincera - rimos juntas.

- Tudo bem. Deixa eu pegar as canecas aqui pra servir o café, - e ela foi para a cozinha - mas fique a vontade! - gritou de longe.

- O cheiro está ótimo. E você tem uma linda casa, aliás! - falei andando pela sala e indo até a janela pra admirar a vista.

Fiquei um tempo ali até que ela veio por trás de mim e estendeu a caneca. Agradeci e tomei um gole.

- Nossa, que delícia.

Ela abaixou a cabeça com um sorriso tímido e ficamos em silêncio por alguns minutos tomando café.

- Eu fui tirar o lixo - ela começou finalmente depois de pigarrear - e sua porta estava entreaberta.

Dei um tapa na testa, fechando os olhos.

- Maldita porta. Claro, na pressa de sair pra ir no mercado, esqueci de trancar, e essa porta tem o defeito de não fechar. Qualquer vento abre!

Ela comprimiu os lábios numa cara chateada.

- Então me aproximei e bati pra ver se tinha alguém a fim de avisar que a porta estava aberta e só vi um gatinho no chão me olhando curioso. Chamei algumas vezes e ninguém respondeu. Preocupada, entrei urgentemente e fechei a porta olhando ao redor e logo encontrei a chave extra atrás da porta. Então tive a ideia de pegá-lo, pra não deixar sozinho, e trancar. Talvez tenha sido demais, mas eu ia gostar se fizessem a mesma coisa comigo.

Assenti milhares de vezes.

- Você está absolutamente certa. Não sabe quem mora ali, não sabe o que aconteceu. Queria deixar o Nicolas seguro e com companhia, claro. Tem toda a razão. Eu... Eu nunca faço isso. Não sei como tudo aconteceu tão rápido e... - hesitei em falar - a sorte de você estar ali.

- Imagina, foi tudo por um motivo maior... Se não, não estaríamos aqui - ela levantou a caneca e sorriu pra mim.

Por um momento parei pra olhar pra ela. Como estava à vontade, era autêntica, genuína, sincera, destemida. Pra não falar mais nada e ter mais tempo pra pensar, tomei um gole longo e demorado até esvaziar a caneca. Nicolas pulou no meu colo e se aninhou.

- Agora eu não vou embora tão cedo - ri.

Ela levantou.

- Mais café?

E assim foi a tarde toda. Tomando café, conversando, acariciando gatos, rindo,... E flertando. Quando já estava ficando tarde, ela me acompanhou até a porta e me devolveu a chave extra.

- Ah, meu Deus, não sei como você não me perguntou meu nome todo esse tempo! Sou Alissa.

- Foi um prazer conhecê-la, Ali. Posso chamar assim, né?

Fui pega de surpresa com a rapidez que a intimidade entre nós duas havia chegado.

- Claro, com certeza - eu não queria ir embora, mesmo que minha casa ficasse do outro lado do corredor. - Eu não esqueci do bolo, viu? Uma hora dessas você pode bater aqui de novo. De preferência quando eu estiver em casa - e ambas rimos.

- Você pode ter certeza que eu irei.

- Então, até logo - me abaixei pra pegar Nicolas e quando levantei de volta, nossos rostos estavam tão perto que foi impossível evitar.

Ela me beijou. Quando o beijo acabou, sorrimos e ela foi até a porta, abrindo-a.

- Até logo.

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